Lá no fundo ainda se vê Cilhades. A aldeia arruma-se discretamente na margem direita do rio Sabor. Os dois grupos de casas lá continuam com a sua alvenaria de xisto, discretas, integradas; um exemplo prático da sã relação do homem com o seu meio ambiente.

Quase todas estas casas estão desabitadas desde o s finais do século XIX . Os homens e as mulheres que aqui viviam preferiram ir para Felgar, mais próximo de Torre de Moncorvo. Mas mantiveram intacto o espírito do lugar.

A sua capelinha branca, que reluz como um pirilampo na pardez do xisto, lá continua a lembrar a todos o significado do tempo, de Agosto, porque é em Agosto que os de Felgar descem até às entranhas do Vale para comemorarem o dia de S. Lourenço.

Hoje é dia de S. Lourenço. Talvez o último dia recordado em Cilhades antes das águas da barragem começarem a subir.

Logo, pelas 19 horas, o santo é tirado pela última vez da sua capelinha centenária para dar a volta do ritual. Depois, daqui a meses, lá virá a transladação, a construção de um outro sítio e a submersão de uma materialidade que no futuro apenas fará parte da memória e da nossa arqueologia sentimental.

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