Esta é uma “estória” que ilustra, à semelhança de tantas outras, a realidade de uma região pobre, muito pobre, cada vez mais pobre e ostracizada.

Esta “estória” conta-se em dois actos, tempo mais do que suficiente para a narração de uma cruel realidade.

Desde 2001 que uma iniciativa conjunta de docentes das Universidades do Minho, de Aveiro e do Instituto Superior Técnico, deu origem ao Festival Nacional de Robótica no nosso país.

Depois da primeira iniciativa ter acontecido na cidade berço de Guimarães, todos os anos uma diferente localidade portuguesa recebe este evento que tem como objectivo de fundo a divulgação da Ciência e da Tecnologia junto dos jovens dos ensinos básico, secundário e superior, através de competições entre robots e de um Encontro Científico onde investigadores e empresários nacionais na área da Robótica convergem para discutirem e apresentarem as suas mais recentes criações .

A competição tem como pano fundo o incentivo à criatividade tecnológica e científica, no âmbito da concepção de protótipos de robots que são construídos e utilizados por jovens que competem em equipas representativas de vários estabelecimentos de ensino nacionais. Os mais bem classificados no encontro nacional de robótica têm o direito de representar a sua nação num encontro internacional que todos os anos se realiza num diferente país do mundo.

A 7ª edição do Festival Nacional de Robótica, que contou com o apoio do Centro Ciência Viva do Algarve e da Câmara Municipal de Albufeira, realizou-se entre os dias 27 e 30 de Abril de 2007 no Pavilhão Desportivo de Paderne.

Nesta edição estiveram a concurso várias modalidades com robots, como a prova de Condução Autónoma, provas de futebol robótico, liga de futebol de robôs médios e pequenos, bem como as ligas Júnior, que se submeteram às regras oficiais do RoboCup , onde se inclui a classe de busca e salvamento júnior com robots.

Foi precisamente na classe de Busca e Salvamento Júnior, Escalão A, que a Escola Secundária de Mirandela participou, tendo obtido um honroso 2º lugar, o que lhe deu acesso directíssimo ao festival mundial de robótica que vai decorrer nos Estados Unidos da América entre os dias 1 e 10 de Julho próximo.

A equipa da Escola Secundária de Mirandela é constituída por Luís Ismael, Mike Carvalho e João Roque que são orientados por José Fidalgo, professor de electrotecnia daquele estabelecimento de ensino. Os jovens e o professor já lançaram um clube a que chamaram Robotua, onde pretendem desenvolver os seus projectos e fomentar uma acção de sensibilização pública para as questões da ciência e da tecnologia.

Neste clube foi pensado e concebido o protótipo de robot que esteve em competição no Algarve.

Este modelo, de pequenas dimensões, foi o melhor robot português em Albufeira, sendo de realçar que esta pequena máquina resultou de um empenhamento pessoal dos três jovens estudantes que ainda não completaram os 14 anos de idade, mas que demonstram já grande apetência, capacidade e gosto pela tecnologia de ponta.

Durante uma hora por dia, e sempre depois de cumprido o horário escolar, os jovens e o seu professor construíram esta pequena “maravilha tecnológica” que foi capaz de arrebatar um segundo lugar na competição algarvia. O pequeno robot apresenta-se com um conjunto variado de sensores comandados por um programa que lhe permite distinguir uma percepção diversificada de cores, níveis de inclinação e detecção de obstáculos.

Foi com a demonstração tecnológica materializada neste robot que a equipa de Mirandela alcançou o direito de poder participar no Festival Internacional de Robótica que se vai realizar em Atlanta já no próximo mês de Julho; só que os jovens o e o seu monitor não conseguem apoios institucionais para financiarem a deslocação até aos Estados Unidos da América.

Os custos até nem são elevados, cerca de 5.000 €, mas nem as entidades públicas, nem as entidades empresariais, até ao momento, manifestaram qualquer interesse no apoio destes promissores jovens cientistas.

As inscrições para apanhar o “comboio” que vai até Atlanta terminam a 15 de Maio, mas, conforme declarou José Fidalgo à Rádio Brigantia, apesar de terem sido contactados alguns organismos oficiais, até ao momento ainda não foi recebida qualquer resposta positiva.

O tempo vai escasseando e a equipa de Mirandela corre o risco de não participar no mais conceituado encontro jovem de robótica a nível mundial. E isto só porque os poderes públicos não dispõem de 5.000€ para financiarem uma simples viagem e correspondente alojamento para estes três jovens criativos e para o seu professor que, ao que parece, são vítimas deste sindroma maligno da massa geológica das serras que se desenvolvem neste país com a pétrea mas decadente marca do “para cá do Marão”.

Enviar um comentário